Aumento da temperatura e mudanças nos ventos actuam sobre espécies.
Os impactos das alterações climáticas nas pescas na costa continental portuguesa já são óbvios. Com a temperatura da água do mar a subir e o regime de ventos a mudar, muitas espécies vão continuar a emigrar.
Dos efeitos "óbvios" das alterações, destaca-se a deslocação para Norte de espécies marinhas de águas mais quentes, nomeadamente da Mauritânia, segundo o biólogo Paulo Talhadas dos Santos, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e investigador em Biologia Marinha e Estuarina do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental.
"Cientistas galegos têm publicado trabalhos sobre dezenas de espécies que aparecem agora na sua região e pescadores portugueses referem a captura de espécies que não existiam nas nossas", diz. O peixe-lua (Mola-mola), que habita as águas temperadas e quentes do Atlântico e do Pacífico, tem sido observado com frequência e até pescado na nossa costa. "Nos últimos anos, a temperatura da água do mar tem subido várias décimas", explica Paulo Talhadas dos Santos.
Um grau muda tudo
"Muitos estudos mostram, que o aumento da temperatura da água do mar em mais um grau centígrado é suficiente para alterar tudo", afirma. O projecto científico SIAM II - Alterações Climáticas em Portugal - Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação admite que esse aumento na costa continental portuguesa poderá ser de um a dois graus até ao final deste século (ver ficha e "caixas").
Vários estudos, nomeadamente em França, mostram que o limite sul de várias espécies se deslocou 200 ou 300 quilómetros para norte nos últimos dez ou 15 anos, recorda o biólogo. Uma das espécies mais sensíveis é a marinha - ou peixe-pau, familiar do cavalo-marinho. Embora sem interesse comercial, é um bom indicador biológico das alterações no habitat: bastante rara e de sensibilidade forte, desaparecerá da nossa costa se a temperatura subir um ou dois graus, avisa o investigador.
O próprio bacalhau, que é uma espécie de água fria, está a migrar para norte, encontrando-se já além do Círculo Polar Árctico, mas com populações menos robustas e com menor disponibilidade alimentar, devido às condições fundo do oceano ("Basta que as espécies de que se alimenta sejam diferentes", nota).
As alterações da temperatura e do regime de ventos são particularmente decisivas para espécies importantes para as pescas portuguesas. É o caso da sardinha, que depende muito do fitoplâncton, cuja abundância está fortemente dependente das correntes de afloramento. Estas correntes são massas de águas frias que vêm do fundo do mar para a superfície muito ricas em nutrientes, mas cuja ascensão é determinada pelo regime de ventos. Se forem nortadas fortes, a corrente ascendente é maior; caso contrário, é prejudicada e a disponibilidade alimentar é menor.
O SIAMII indica também que teremos mais agitação no mar e mais tempestades, o que pode ser suficiente para fazer desaparecer espécies de zonas onde a agitação e a força da energia do mar serão maiores. É o caso dos búzios das zonas entre marés, exemplifica.
As alterações climáticas vêm acentuar os problemas de escassez de recursos nas nossas águas devido à sobre-exploração, alerta, recordando que populações de tamboril, lagostim e pescada já estão em declínio por causa do excesso de pesca.
Impactos projectados
Afloramento
Redução significativa do afloramento costeiro (subida de massas de água frias e ricas nutrientes azotados), devido ao enfraquecimento dos ventos de Norte e ao aumento da temperatura à superfície.
Migrações
Com aumento da temperatura da água do mar e reduções nos afloramentos costeiros, espécies de águas frias deslocam-se mais para Norte e as de águas africanas vão continuar a subir.
Reprodução
O aumento da temperatura associado a maturação sexual precoce (antecipada por esse aumento) e tamanho menor de adultos de algumas espécies, bem como alterações nas disponibilidades alimentares podem fazer diminuir o potencial reprodutor. Enfraquecimento no afloramento na Primavera e Verão afecta espécies que se reproduzem no final destas estações.
Mortalidade
Com o aquecimento, aumentará o metabolismo de espécies de peixes e invertebrados marinhos, gerando maior actividade e maior contacto entre presas e predadores, conduzindo a aumento de mortalidade. Esta alteração será mais sensível na camada superficial.
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